terça-feira, 16 de dezembro de 2014

DETENTOS TENTAM FUGIR DO PRESÍDIO CENTRAL

ZERO HORA 16/12/2014 | 03h01

Detentos aproveitam restos de demolição de pavilhão para tentar fugir de cadeia. Tentativa aconteceu na madrugada de domingo, quando houve tumulto com bloqueio da rua de acesso à prisão e interrupção de visitas

José Luís Costa




Escombros do pavilhão C serviram de abrigo a tentativa de fuga (Foto: Ronaldo Bernardi)

Prometida como solução para o maior problema nas cadeias gaúchas, a derrubada do Presídio Central de Porto Alegre mal começou, foi interrompida e já gera risco à segurança pública.

Por conta de uma falha, os escombros do pavilhão C serviram de abrigo a um grupo de presos na madrugada de domingo, que se aproveitou da situação para tentar fugir. Houve tumulto com bloqueio da rua de acesso à cadeia e interrupção de visitas. A Brigada Militar – que administra o presídio – teve de conferir, um por um, onde estavam os mais de 3,6 mil detentos.

A fuga planejada começou a ser executada por volta das 20h30min de sábado, quando cinco detentos se envolveram em uma confusão na segunda galeria do pavilhão D. Os presos chamaram a guarda, alegando que queriam sair do local. O procedimento para esses casos seria colocar os apenados em uma cela conhecida por brete no próprio pavilhão para, depois, acomodá-los em outra galeria. Por motivos ainda não explicados, os detentos foram levados para o brete do pavilhão C que ainda segue em pé – em frente ao D, distante cerca de três metros do posto de controle da guarda. Também por razões ainda não esclarecidas, os presos não teriam sido revistados, o que permitiu que levassem, escondida em sacolas com roupas e lençóis, uma jiboia (corda feita com panos enozados e um gancho de ferro na ponta para escalar muros).
Por volta da 1h de domingo, utilizando um pedaço de ferro, os presos quebraram um cadeado da cela do brete C e se esgueiraram pelos escombros do prédio, chegando ao pátio externo. PMs que estavam em duas guaritas de vigilância no muro externo perceberam o movimento de três detentos. Aproveitando-se da escuridão e de pontos cegos à guarda pelas paredes em ruínas, o grupo abandonou a jiboia e retornou para detrás das grades do brete do C, fingindo fechar a cela com o cadeado quebrado. Os presos permaneceram como se nada tivesse acontecido e sem que ninguém suspeitasse da movimentação, mas um aviso dos PMs das guaritas fez soar um alerta geral no presídio. Um pelotão de emergência foi acionado. Começaram buscas pelo que ainda resta do pavilhão C e ninguém foi avistado. A inspeção se estendeu por corredores e pátios sem sucesso e sem saber quem estavam procurando.

Para esclarecer o caso, os policiais fizeram revistas em todas as celas dos 10 pavilhões do Central, examinando as condições de grades e portas e checando nome por nome. O trabalhou durou cerca de nove horas. Análise de imagens do sistema interno de vigilância constatou que a tentativa de fuga foi planejada pelos cinco detentos que armaram uma briga e estavam no brete do C.

Juiz critica demolição pela metade de pavilhão

Os cinco – Daniel de Souza Monteiro, Diego Santana Machado, Luis Rael Costa Cardoso, Maurício Conceição Fernandes e Paulo Ricardo Lemos de Almeida – ficarão isolados por 10 dias e deverão ser transferidos para outra cadeia. O diretor do Presídio Central, major Dagoberto Albuquerque, informou que foi aberta sindicância para apurar o caso.

O juiz da Vara de Execuções Criminais, Sidinei Brzuska, lamentou o episódio.

– A tentativa de fuga tem relação com a demolição por metade do pavilhão C. Os escombros dificultam a visualização por parte da guarda externa, criam sombras e locais para que os presos se escondam. A demolição do C, além de reduzir a capacidade de engenharia da unidade superlotada, a tornou mais frágil – disse Brzuska.

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