domingo, 24 de abril de 2011

MILICIAS - CHEFES COMANDAM DE DENTRO DO PRESÍDIO

Controle remoto. Mesmo presos, chefes de milícias comandam quadrilhas na Zona Oeste do Rio, no estilo do tráfico - 23/04/2011 às 20h36m; Sérgio Ramalho - O Globo


RIO - É de uma cela individual de sete metros quadrados, na Penitenciária Federal de Campo Grande (MS), a 1.445 quilômetros do estado, que o ex-PM Ricardo Teixeira da Cruz, o Batman, dita ordens aos integrantes do maior grupo paramilitar em atuação na Zona Oeste do Rio. Da mesma forma que os traficantes, milicianos presos se correspondem com suas quadrilhas por meio de cartas e bilhetes entregues a emissários durante as visitas.

De acordo com reportagem de Sérgio Ramalho publicada na edição deste domingo do jornal O Globo (leia a íntegra na edição digital, só para assinantes) , as articulações de Batman com seu principal aliado em liberdade, o PM desertor Toni Ângelo de Souza Aguiar, vêm sendo monitoradas pela Delegacia de Repressão a Ações Criminosas Organizadas (Draco) e pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público estadual.

As investigações mostram que, há pelo menos três meses, Toni Ângelo recebe determinações por meio de cartas e bilhetes ditados da prisão de segurança máxima por Batman. Chefe de investigações da Draco, Jorge Gerhard ressalta que as ordens costumam ser transmitidas aos principais integrantes da milícia durante reuniões, nas quais a correspondência é lida em voz alta. Foi o que aconteceu em março, pouco depois do carnaval, quando os milicianos foram informados que o dinheiro arrecadado com a cobrança de "taxas de segurança" não deveria mais ser repassado integralmente a emissários dos irmãos Natalino e Jerônimo Guimarães.

Atentado planejado por meio de bilhetes

Também presos em Campo Grande (MS), o ex-deputado estadual Natalino e o ex-vereador Jerominho recorreram à troca de mensagens para tentar evitar o racha na estrutura da milícia e, por consequência, a perda de poder para Batman, como indicam as análises da Draco e do Gaeco. O método também teria sido adotado pelo ex-sargento Luiz Monteiro da Silva, o Doem, para orientar aliados em liberdade a planejarem um atentado contra um integrante do Ministério Público estadual. Chefe de uma milícia em Jacarepaguá, o ex-PM - condenado em fevereiro a 11 anos de prisão - também teria trocado mensagens com um antigo rival, o vereador Luiz André Ferreira da Silva, o Deco, que foi preso na Operação Blecaute, no último dia 13.

Para o deputado estadual Marcelo Freixo, que presidiu a CPI das Milícias, o uso de cartas e bilhetes pelos chefes de grupos paramilitares presos não surpreende:
- É a típica relação de máfia. Não é porque os chefes foram presos que vão perder poder dentro de suas quadrilhas. É claro que pode haver rachas, como aconteceu com o grupo dos irmãos Natalino e Jerominho, mas os líderes vão continuar dando ordens por meio de cartas e recados repassados a emissários durante as visitas.

O deputado ressalta que os milicianos são muito mais organizados que os traficantes. Freixo argumenta que os grupos paramilitares contam com a participação de agentes da lei e, apesar das prisões dos principais chefes, não perderam o controle territorial nem, sobretudo, as fontes de recursos. Freixo acrescenta que nenhuma das medidas propostas pelo relatório da comissão foi adotada. O deputado ressalta que o controle do transporte alternativo e o aumento da fiscalização na distribuição de gás são pontos primordiais a serem adotados. Estes segmentos garantem parte significativa dos recursos obtidos pelas milícias através da cobrança de "taxas de segurança" e ágio.

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